Gestão Estratégica de Serviços: Operações, Qualidade e Pessoas
Estratégia Empresarial: As Etapas do Processo Estratégico e o Uso de Ferramentas Clássicas
Antes de Falar: Os 3 Filtros da Sabedoria Socrática
João trabalhava em um escritório de uma grande empresa, onde a rotina era marcada por metas, prazos e a constante interação entre os colegas. Como em muitos ambientes de trabalho, o café da manhã e as pausas para o café eram momentos de descontração, mas também de conversas paralelas que, por vezes, se transformavam em rumores sobre a vida pessoal e profissional de outros funcionários. Certo dia, João ouviu uma conversa entre dois colegas sobre Pedro, um dos funcionários mais antigos da empresa.
Os colegas comentavam, em tom de fofoca, que Pedro estava prestes a ser demitido por causa de um suposto erro grave. João ouviu aquilo e, por um instante, sentiu-se tentado a repassar a informação para outros, talvez até para seus amigos mais próximos no escritório. Afinal, era algo que afetava diretamente o ambiente de trabalho, e seria interessante estar “por dentro” das últimas novidades.
No entanto, uma inquietação tomou conta de João. Ele se lembrou de uma antiga conversa filosófica que tivera com um amigo, em que haviam discutido sobre os três filtros socráticos. “Será que essa informação que acabei de ouvir passa pelos três filtros?”, ele se perguntou. E assim, João iniciou um processo reflexivo que o conduziria a uma decisão importante.
Primeiro filtro: A verdade
O primeiro filtro que passou pela mente de João foi o da verdade. Ele se perguntou: “Será que isso que ouvi é realmente verdade? De onde vem essa informação? Tenho como confirmá-la?”. Ao relembrar a conversa dos colegas, João percebeu que o que eles estavam fazendo era especular. Ninguém ali havia falado com certeza sobre a situação de Pedro; era apenas um rumor que se espalhava rapidamente, sem nenhuma confirmação oficial.
João refletiu: quantas vezes ele mesmo havia sido vítima de informações falsas ou distorcidas? E mais, ele sabia o quanto informações incorretas podiam gerar mal-entendidos e prejudicar pessoas inocentes. Afinal, Pedro poderia estar com problemas que ele mesmo desconhecia, ou talvez a situação fosse muito diferente do que haviam especulado.
Ao concluir que não havia certeza sobre a verdade do que ouvira, João começou a perceber que não seria sábio repassar adiante. Porém, mesmo que fosse verdade, será que valeria a pena compartilhar? Isso o levou ao segundo filtro.
Segundo filtro: A bondade
Agora, João se perguntou se compartilhar aquela informação faria bem a alguém. Ele refletiu sobre o impacto que suas palavras poderiam ter sobre Pedro e sobre o ambiente de trabalho como um todo. Se Pedro estivesse realmente prestes a ser demitido, espalhar esse rumor apenas aumentaria o estresse e o clima de desconfiança ao seu redor. João lembrou-se de como a empresa já estava em um período de mudanças e como isso deixava todos tensos. Compartilhar mais esse rumor poderia gerar insegurança entre os funcionários e, pior, prejudicar ainda mais a imagem de Pedro diante dos colegas, antes mesmo de qualquer decisão oficial.
Mesmo que a informação fosse verdadeira, era evidente que não traria nenhum benefício a Pedro ou a qualquer outra pessoa ao redor. A bondade, pensou João, não estava apenas em não causar mal diretamente, mas também em não alimentar conversas que pudessem gerar desconforto e sofrimento desnecessário.
Mas então, ele ponderou o último filtro: ainda que a verdade fosse duvidosa e a bondade questionável, haveria algum motivo para que essa informação fosse realmente útil?
Terceiro filtro: A utilidade
A última questão que João precisou enfrentar foi a da utilidade. Mesmo que o que tivesse ouvido fosse verdadeiro e, em algum nível, não tão prejudicial, seria aquilo útil? Traria algum valor prático ou construtivo compartilhar essa informação com outras pessoas?
João ponderou: em que aquilo poderia mudar a sua rotina de trabalho ou a de seus colegas? Afinal, saber sobre uma possível demissão de Pedro não mudaria a situação de ninguém, exceto para gerar mais especulações e comentários vazios. Além disso, João percebeu que ele não era a pessoa que poderia tomar qualquer tipo de ação útil diante daquilo. Se Pedro realmente estivesse em uma situação delicada, caberia aos superiores ou aos gestores resolverem, e não a ele ou aos seus colegas de trabalho.
Diante disso, João concluiu que compartilhar o rumor não traria nenhuma utilidade prática. Seria apenas uma forma de alimentar fofocas e aumentar a ansiedade dos colegas, sem contribuir de maneira positiva para o ambiente de trabalho.
Depois de passar pelos três filtros, João tomou sua decisão: ficar em silêncio. Ao contrário do que poderia parecer, o silêncio naquele momento não era uma omissão ou negligência, mas uma escolha consciente e ética. Ele percebeu que não precisava espalhar uma informação incerta, que poderia causar danos e que, no fim das contas, não teria nenhum valor prático para ninguém. João seguiu sua rotina, sem alimentar mais conversas sobre Pedro e focando em seu próprio trabalho.
Essa decisão, embora simples, foi um exercício de sabedoria que muitos esquecem em meio à pressa cotidiana. Em um mundo onde informações circulam sem controle, aprender a aplicar os três filtros socráticos é mais relevante do que nunca. A verdade, a bondade e a utilidade são pilares que nos ajudam a viver de forma mais consciente, refletindo sobre o poder das palavras e suas consequências. Afinal, muitas vezes, o verdadeiro ato de sabedoria está não no que dizemos, mas no que escolhemos não dizer.
Agora, resta uma pergunta a você, cara leitora / caro leitor: quais conversas, informações ou pensamentos passariam pelos três filtros socráticos no seu dia a dia?
Fonte da Imagem: gerada com IA.
Como citar essa pensata: Barbosa, Aline dos Santos. Antes de Falar: Os 3 Filtros da Sabedoria Socrática. Schola Akadémia, v.3, n.6, p. 1-3. Disponível em: www.scholaakademia.com, 2024.
Sobre a autora
Aline Barbosa
Filósofa, Doutora e Mestra em Administração de Empresas. Bacharel em Comunicação Social. Atualmente cursando Licenciatura em História. É professora, Orientadora e Mentora Acadêmica. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Amor, Desigualdade de Gênero nas Organizações e Sociedade, Violência contra as Mulheres, Carreiras não Tradicionais, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.