No âmago da terra repousa uma matéria-prima humilde e ancestral: o barro. Na complexidade de sua composição, encontramos uma riqueza simbólica e prática que perpassa tanto a criação do homem quanto a construção de civilizações. No livro de Gênesis, lemos que “O Senhor Deus modelou o homem com barro da terra. Soprou-lhe nas narinas e deu-lhe respiração e vida. E o homem tornou-se um ser vivo” (Gênesis 2:7). Essa passagem não só aponta para a origem divina do ser humano, mas também revela a profunda conexão entre o homem e a terra. A história do oleiro Antônio e da arqueóloga Lúcia ilustra a adaptabilidade do barro como um poderoso símbolo para nossas vidas.
Antônio acorda cedo todos os dias e vai para sua oficina, um espaço simples repleto de lembranças e histórias de sua família. Desde pequeno, ele aprendeu a moldar o barro com seu pai e avô, perpetuando uma tradição que alimentou sua família por gerações. Para ele, o barro não é apenas uma matéria-prima, mas um elemento sagrado que conecta sua família à terra e à essência da vida.
Um dia, enquanto trabalhava em seu torno, foi interrompido por uma visitante que ele não reconheceu de imediato. Lúcia, agora uma arqueóloga renomada, contou para ele como uma de suas esculturas a inspirou quando criança e a levou a seguir sua paixão pelo estudo de artefatos de cerâmica. A estátua que recebeu de presente de seus avós, esculpida por Antônio, tornou-se um símbolo de sua carreira.
Ela explicou para Antônio como a manipulação do barro representou uma das primeiras grandes conquistas do homem pré-histórico e como, por meio de suas pesquisas, ela podia datar e analisar peças cerâmicas antigas, revelando histórias sobre civilizações passadas. Para ela, o barro era um protagonista do desenvolvimento cultural e tecnológico da humanidade.
O barro simboliza a capacidade humana de aprender e se transformar. Assim como a argila pode ser moldada de inúmeras formas, nós também temos o potencial de nos adaptarmos às mudanças e superarmos adversidades. Antônio, moldando sua vida e sustento a partir do barro, representa essa resiliência. Em nossas jornadas, essa adaptabilidade é essencial para enfrentar uma vida em constante mudança e para inovar dentro de nossas áreas de atuação.
A cerâmica, além de uma conquista tecnológica, também é um meio de expressão cultural e artística. Civilizações antigas, como a Grécia, a China e as Américas, utilizaram o barro para criar artefatos que ainda hoje nos revelam suas crenças, valores e modos de vida. Lúcia, por meio de seu ofício, preserva e revela essas histórias, inspirando-nos a valorizar nossas próprias contribuições como humanidade.
Em um mundo que busca cada vez mais práticas sustentáveis, o uso do barro na construção civil apresenta uma alternativa ecológica e eficiente. Técnicas tradicionais, como as habitações de taipa e adobe, oferecem propriedades térmicas superiores e demandam menos energia. A integração desses métodos com tecnologias contemporâneas pode resultar em soluções inovadoras que respeitam o meio ambiente e preservam nossas tradições.
Antônio e Lúcia simbolizam a continuidade e a transformação. Ele, com sua vocação de moldar o barro, e ela, com sua capacidade de estudar e preservar essas criações, demonstram como o passado e o presente se entrelaçam para criar o futuro. A habilidade de Antônio em criar peças transcende a utilidade, alcançando o plano espiritual e artístico, reflete a importância de nossas raízes enquanto olhamos para o amanhã. Lúcia, inspirada por uma estátua de barro, dedicou sua carreira ao estudo deste material, mostra como pequenas influências podem ter grandes repercussões, incentivando-nos a buscar nossas próprias paixões e a deixar um legado significativo.
Em nossas vidas, sermos como o barro significa sermos flexíveis, adaptáveis e receptivos às mudanças. A capacidade de se reinventar e de moldar nossas habilidades conforme as necessidades do contexto é essencial para o sucesso a longo prazo. Assim como Antônio e Lúcia encontraram significado e propósito no barro, podemos encontrar inspiração utilizando suas lições para guiar nossas vidas. A argila, em sua essência, continua a transformar nossa jornada e o mundo ao nosso redor, conectando, de formas diferentes, o ser humano e a natureza.
Convidamos você cara leitora e caro leitor a refletir: estamos sendo como o barro, adaptando-nos e transformando-nos continuamente para criar um futuro mais resiliente e inovador para nós e os outros?
Como citar essa pensata: Barbosa, Luíza Chiarelli de Almeida; Barbosa, Aline dos Santos. A Arte do Oleiro: O Barro que Molda o Homem e a Sua Jornada. Schola Akadémia, v.3, n.5, p. 1-3. Disponível em: www.scholaakademia.com, 2024.
Sobre as autoras
Luíza Chiarelli de Almeida Barbosa
Arquiteta e Urbanista, Mestre em Gestão Urbana e Especialista em Gestão Escolar e em Formação docente para EAD. Doutoranda em Gestão Ambiental. Coautora do livro Vales Imaginários: Anhangabaú. É professora nos cursos de Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário Internacional. Tem interesse de pesquisa nas temáticas relacionadas a Filosofia, Artemídia, Interações Socioespaciais, Comunicação, Cultura e Educação.
Aline Barbosa
Filósofa, Doutora e Mestra em Administração de Empresas. Bacharel em Comunicação Social. Atualmente cursando Licenciatura em História. É professora, Orientadora e Mentora Acadêmica. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Amor, Desigualdade de Gênero nas Organizações e Sociedade, Violência contra as Mulheres, Carreiras não Tradicionais, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.