Papo Filosófico – Liderança

A liderança requer uma mudança de mentalidade. Esse processo é complexo e está longe de ser algo inato, pois existem diferentes tipos de líderes, cada um com suas características e influências. Por exemplo, o líder transformacional é capaz de inspirar e motivar sua equipe a alcançar objetivos comuns.

Outro tipo é o líder técnico, que possui um alto nível de conhecimento em sua área de atuação, o que lhe permite identificar e aproveitar seus pontos fortes e fracos. O líder relacional se destaca por ter uma inteligência emocional apurada e é capaz de construir relacionamentos sólidos com os membros de sua equipe. Já o líder situacional é flexível e adapta sua abordagem de acordo com a situação, é capaz de identificar as necessidades de cada momento e ajustar seu estilo de liderança de acordo com as circunstâncias.

Por outro lado, é importante reconhecer que a liderança nem sempre é positiva. Um líder tóxico deixa efeitos colaterais em seus subordinados, causando um impacto negativo no ambiente de trabalho e no bem-estar dos colaboradores. Por fim, o líder autêntico se destaca por ter valores e costumes sólidos, agindo de acordo com sua verdadeira identidade. Eles são consistentes em suas ações e inspiram confiança em sua equipe. A liderança é um assunto amplo e desafiador, ou seja, para desenvolver essas habilidades é necessário compreender os diferentes tipos de líderes e suas influências, para que possamos buscar uma jornada mais positiva e eficaz.

Sobre o autor

Marcello Romani-Dias

Filósofo, Doutor e Mestre em Administração de Empresas. Bacharel em Administração. Atualmente cursando Licenciatura em História. É Professor Titular nos Programas de Pós Graduação em Administração de Empresas e Gestão Ambiental da Universidade Positivo. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Virtudes, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.

O Espinho na Carne: Buscando Sentido e Propósito na Filosofia Cristã e Hinduísta

“Mas, para que não ficasse orgulhoso demais por causa das coisas maravilhosas que vi, eu recebi uma doença dolorosa, que é como um espinho na carne. Ela veio como um mensageiro de Satanás para me dar bofetadas e impedir que eu ficasse orgulhoso. Três vezes orei ao Senhor, pedindo que ele me tirasse esse sofrimento. Mas ele me respondeu: “A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco.” Portanto, eu me sinto muito feliz em me gabar das minhas fraquezas, para que assim a proteção do poder de Cristo esteja comigo. Eu me alegro também com as fraquezas, os insultos, os sofrimentos, as perseguições e as dificuldades pelos quais passo por causa de Cristo. Porque, quando perco toda a minha força, então tenho a força de Cristo em mim.” 2 Coríntios 12: 7-10

Provavelmente você já leu esta passagem na Bíblia ou já ouviu alguma mensagem sobre ela, pois é uma citação bastante utilizada para ilustrar a graça e força divina em nossas vidas. Crendo ou não na Bíblia, esta passagem nos convida a refletirmos sobre seu significado filosófico e teológico. O “espinho na carne” mencionado pelo apóstolo Paulo na Bíblia, é um conceito rico e que pode ser amplamente explorado. Embora o texto não forneça detalhes específicos sobre a natureza desse espinho na carne de Paulo, muitos estudiosos e teólogos têm debatido seu significado e implicações ao longo dos séculos.

Em uma interpretação filosófica, o “espinho na carne” pode ser visto como um símbolo da imperfeição humana e das lutas que todos enfrentam em suas vidas. Ele representa as dificuldades, fraquezas e limitações que acompanham nossa existência. Para Paulo, esse espinho era uma lembrança constante de sua dependência de Deus e de sua própria insuficiência enquanto humano.

Sob uma abordagem filosófica existencialista ocidental, também se torna viável aplicar essa metáfora. O espinho na carne de Paulo poderia ser entendido como uma metáfora das ansiedades existenciais e do sofrimento que todos os seres humanos enfrentam ao confrontar as incertezas e limitações da vida. Assim como Sartre argumentava que a existência precede a essência, o espinho na carne nos lembra que nossa existência muitas vezes está repleta de desafios imprevisíveis que moldam nossa jornada. Se nos voltarmos para o pensamento de uma das filosofias mais antigas do mundo, que se desenvolveu ao longo de milênios na Índia – o hinduísmo, o “espinho na carne” de Paulo poderia ser interpretado de várias maneiras. Uma delas é o desapego e o autoconhecimento. O conceito de desapego e autoconhecimento é profundamente enraizado na filosofia hinduísta e representa um dos aspectos fundamentais da busca espiritual no hinduísmo. Esses princípios também podem ser aplicados de maneira intrigante à experiência de Paulo e à sua compreensão do “espinho na carne”.

No hinduísmo, o desapego (ou vairagya) refere-se à capacidade de se libertar das amarras das preocupações mundanas, dos desejos materiais e das emoções humanas. Isso não significa a rejeição do mundo, mas a capacidade de manter uma perspectiva equilibrada e não se deixar dominar pelas preocupações temporais. É uma qualidade fundamental para aqueles que buscam a iluminação espiritual e a liberação do ciclo de reencarnação (samsara).

O autoconhecimento, ou “atma-jnana“, é outra pedra angular da filosofia hinduísta. Envolve uma busca interior profunda para entender a verdadeira natureza do ser e reconhecer a unidade da alma individual (Atman) com a divindade cósmica (Brahman). Esse conhecimento interno é considerado o caminho para a realização espiritual e a libertação (moksha).

Voltando a Paulo e seu “espinho na carne”, podemos considerar que sua experiência pode ser vista sob essa lente. Ao enfrentar desafios pessoais e aflições, ele poderia estar em um processo de desenvolvimento do desapego das preocupações mundanas. Esses desafios podem tê-lo incentivado a buscar um conhecimento mais profundo de sua fé e do propósito de sua vida. Por meio desses desafios, Paulo pode ter se questionado sobre o significado de suas ações e motivações pessoais, bem como sua conexão com sua fé e com Deus. Esse processo de autoexame e busca espiritual pode ter sido uma forma de autoconhecimento, permitindo-lhe crescer em sua compreensão espiritual e desenvolver uma relação mais profunda com sua fé.

Portanto, sob a perspectiva do hinduísmo, a aflição de Paulo pode ser interpretada como uma oportunidade para crescer em direção ao desapego das preocupações mundanas e para buscar um autoconhecimento mais profundo. Essa abordagem oferece uma maneira interessante de analisar a experiência de Paulo à luz dos princípios espirituais hindus, destacando a universalidade desses conceitos em diferentes tradições religiosas e filosóficas.

Por fim, vamos contemplar a resposta divina ao pedido de Paulo para que Deus removesse o “espinho” em sua vida: A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco.” Essa resposta nos instiga a uma profunda reflexão sobre o conceito de graça e a relação intrincada entre fraqueza e força. Essa ideia pode ser interpretada como a noção de que, por meio de nossas fraquezas e lutas físicas e materiais, descobrimos uma força espiritual e uma transcendência. Em paralelo a essa concepção, lembramos as palavras de Platão, que via o corpo como a fonte de desejos, paixões e necessidades materiais, enquanto a alma, que ele considerava a parte mais elevada do ser humano, anseia por sabedoria, verdade e conhecimento. Para Platão, o corpo representava uma prisão temporária da alma, e as distrações físicas e emocionais do corpo poderiam dificultar a busca pela verdade e pelo autoconhecimento. Conforme ele argumentava, “o corpo perturba a alma”.

Diante disso, convido você, prezada leitora e caro leitor, a considerar quais são os “espinhos em sua carne” que estão lhe perturbando a alma ou que estão lhe permitindo explorar um conhecimento mais profundo acerca do sentido e do propósito de sua vida?

Como citar essa pensata:
Barbosa, Aline dos Santos. O Espinho na Carne: Buscando Sentido e Propósito na Filosofia Cristã e Hinduísta. Schola Akadémia, v.1, n.7, p. 1-3. Disponível em: www.scholaakademia.com, 2023.

Sobre a autora

Aline Barbosa

Filósofa, Doutora e Mestra em Administração de Empresas. Bacharel em Comunicação Social. Atualmente cursando Licenciatura em História. É Professora Permanente no Programa de Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial (MADE) da Universidade Estácio de Sá. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Amor, Desigualdade de Gênero nas Organizações e Sociedade, Violência contra as Mulheres, Carreiras não Tradicionais, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.

O Outro Eu que Não Sou Eu

Era uma bela noite de quinta-feira feira. Letícia estava faminta e muito apertada para ir ao banheiro. Ao chegar em uma das únicas lanchonetes aberta na cidade às 2h30 da manhã, tinha duas coisas em mente: 1 ir ao banheiro e 2 comer um belo sanduíche! No entanto, seus objetivos foram interrompidos por um chamado. Um homem estava pedindo por ajuda para se alimentar na porta desta lanchonete. Letícia, parou prontamente para ouvir seu pleito. Neste momento, seus objetivos perderam toda importância diante do sincero clamor daquele que na madrugada implorava por alimento. Seu jeito simpático e educado diante da situação em que se encontrava cativara Letícia, que prontamente o convidou para entrar com ela e poder matar sua fome.

Qual sanduíche você vai querer? Indagou Letícia. O homem faminto e surpreso mal sabia o que responder, pois qualquer coisa naquele momento servia! Mas, Letícia insistiu para que ele escolhesse seu sanduíche. A atendente também surpresa com o comportamento de Letícia, narrou as opções para o homem que, com olhos arregalados diante de tantas delícias expostas na vitrine, apenas assentia com a cabeça. Uma palavra em especial chamou sua atenção, uma palavra conhecida, diante de tantas opções, um tipo de alimento que ele conhecia. “É esse, eu quero esse!” Esboçou um grande sorriso e até cantarolou uma música que usa esta mesma palavra. Agora com mais confiança, seguiu escolhendo e montando seu sanduíche. Sempre sorrindo e demonstrando a tamanha felicidade de ter sido visto e ouvido. Ele escolheu praticamente todas as opções que tinham disponíveis para serem utilizadas. Estava feliz, ansioso e queria aproveitar o máximo daquela oportunidade. Quantas vezes na vida será que ele teve opção de escolher o que comeria? De preparar seu próprio sanduíche com itens que ele gostava?

Chegando ao final do pedido, Letícia e o homem falaram ao mesmo tempo: “o que você vai beber?” “Posso pedir uma bebida?” Risos por esta coincidência engraçada. Ele então pôde escolher seu refrigerante favorito. Pediu tudo para viagem, pois ia se deliciar no abrigo disponibilizado pela prefeitura local. Feliz da vida ele foi embora, com seu grande sanduíche quentinho e seu refrigerante geladinho, rumo a uma noite feliz, ou pelo menos uma noite alimentado. Coisa que nem sempre acontecia, segundo ele!

Eu, espectadora desta incrível cena observava tudo atentamente, deliciando-me com cada detalhe deste momento de Alteridade. A alteridade é um conceito fundamental nas ciências sociais e filosofia, destacando-se como um princípio-chave para a compreensão das relações humanas e da construção de uma sociedade mais empática e inclusiva. Derivado do termo latino “alter”, que significa “outro”, a alteridade envolve a capacidade de reconhecer, respeitar e valorizar a diversidade de perspectivas, identidades e experiências que existem entre os indivíduos e grupos.

Em um mundo cada vez mais interconectado, a noção de alteridade ganha uma importância crescente. Ela nos lembra da complexidade inerente a cada ser humano e à variedade de culturas, crenças e contextos que moldam suas vidas. Reconhecer a alteridade é ir além da nossa própria visão de mundo e se abrir para a compreensão das vivências e realidades dos outros.

A alteridade é essencial para a promoção do diálogo construtivo e da convivência pacífica em uma sociedade diversificada. Ao adotarmos uma postura de alteridade, estamos dispostos a ouvir atentamente, a considerar diferentes pontos de vista e a reconhecer a validade das experiências alheias. Isso não significa necessariamente concordar com tudo, mas sim cultivar a empatia e o respeito mútuo. Além disso, a alteridade desafia preconceitos e estereótipos, convidando-nos a desafiar nossas próprias suposições e a questionar o desconhecido. Ela oferece uma base sólida para a luta contra a discriminação, a desigualdade e a exclusão social. Quando abraçamos a alteridade, estamos construindo uma sociedade mais inclusiva, na qual todas as vozes são ouvidas e valorizadas, independentemente de sua origem, gênero, orientação sexual ou crença.

No entanto, a prática da alteridade não é sempre simples. Ela exige um esforço constante para superar nossa tendência natural de nos apegarmos a nossas próprias perspectivas e ideias. Requer humildade para admitir que nosso conhecimento é limitado e que há muito a aprender com os outros. Ao mesmo tempo, a alteridade pode ser incrivelmente enriquecedora, permitindo-nos expandir nossos horizontes e cultivar um senso mais profundo de conexão humana.

Em última análise, a alteridade é um chamado para celebrar a diversidade humana e para reconhecer que a verdadeira riqueza da humanidade reside na multiplicidade de experiências, conhecimentos e visões de mundo. Ao adotar a alteridade como princípio orientador, estamos contribuindo para um mundo mais harmonioso e compassivo, onde as diferenças são não apenas toleradas, mas celebradas.

Na história de Letícia, a alteridade pôde ser observada porque ela se importou em perguntar o que aquele homem gostaria de comer e beber, não apenas lhe ofereceu o sanduíche mais barato do cardápio ou o que ela mais gostava. Note, ela poderia em um ato de muita empatia comprar o sanduíche mais caro da loja, o seu preferido, com muita boa intenção de agradar, mas isso não seria um ato de alteridade, pois ela estava fazendo por ele aquilo que ela gostaria que fosse feito para ela. Ouvimos muito esta frase “faça ao outro aquilo que gostaria que fosse feito para você”, mas refletindo nesta frase a partir da alteridade, ela seria reescrita da seguinte forma: “faça ao outro aquilo que ele gostaria que fosse feito para ele”.

Isso porque a alteridade envolve um compromisso ativo em ouvir, aprender e valorizar as perspectivas dos outros, mesmo que elas se afastem das nossas próprias. Olhe para o outro, pergunte ao outro o que ele quer, o que ele precisa, não acredite que o melhor para você é o melhor para o outro também, porque aquele outro é humano como você, mas é um humano diferente de você, é outro você!

Você consegue se lembrar de alguma situação em que você fez ao outro algo baseado no que você gostaria que fosse feito a você? Como foi essa experiência? E ao contrário, você já fez algo baseado no que o outro gostaria que fosse feito para ele? Como isso aconteceu?

Esperamos que esta pensata lhe ajude a olhar com olhos diferentes para os outros você que existem neste mundo.

Como citar essa pensata:
Barbosa, Aline dos Santos. O Outro Eu que Não Sou Eu. Schola Akadémia, v.1, n.6, p. 1-3. Disponível em: www.scholaakademia.com, 2023.

Sobre a autora

Aline Barbosa

Filósofa, Doutora e Mestra em Administração de Empresas. Bacharel em Comunicação Social. Atualmente cursando Licenciatura em História. É Professora Permanente no Programa de Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial (MADE) da Universidade Estácio de Sá. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Amor, Desigualdade de Gênero nas Organizações e Sociedade, Violência contra as Mulheres, Carreiras não Tradicionais, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.