O Perfume de Lavandas e a Cochonilha da Dúvida: Uma Jornada Contra a Síndrome de Impostora

Alice era uma pesquisadora dedicada, mas ainda muito jovem. Seu trabalho árduo e apaixonado a levou a apresentar um artigo inovador em um importante congresso científico. No entanto, mesmo com sua competência comprovada, Alice não conseguia se livrar da sombra da síndrome de impostora.

Ao saber que seu artigo estava entre os indicados para um prestigioso prêmio, Alice experimentou uma mistura de emoções: empolgação, incredulidade e, acima de tudo, a voz insidiosa da dúvida. A ideia de receber um prêmio tão significativo parecia distante demais da realidade que ela tinha internalizado sobre suas próprias capacidades.

O dia da cerimônia chegou, e Alice sentou-se na plateia, observando nervosamente os minutos passarem. Enquanto os vencedores eram anunciados, seu coração batia mais rápido a cada nome pronunciado. Quando seu nome foi chamado como a vencedora, ela não conseguiu processar a informação. Será que tinham cometido um engano? O prêmio deveria ser dela?

A síndrome de impostora agia como um peso sobre seus ombros, tornando difícil acreditar que ela merecia estar no palco, recebendo aquele prêmio tão cobiçado. Ela hesitou, olhando ao redor, esperando que alguém mais se levantasse. Mas à medida que o silêncio aumentava, Alice percebeu que não havia engano. Ela era, de fato, a premiada.

Os aplausos da plateia a puxaram de volta para a realidade. Ainda incerta, Alice se levantou lentamente, sentindo cada olhar sobre ela. Enquanto caminhava em direção ao palco, uma batalha interna se desenrolava. A síndrome de impostora sussurrava que ela não merecia aquele reconhecimento, que estava apenas ocupando o lugar de outra pessoa mais competente.

Mas, no momento em que segurou o troféu em suas mãos, algo mudou. O olhar de admiração nos rostos da plateia, o calor dos aplausos e, acima de tudo, a validação do seu trabalho a fizeram perceber que ela pertencia àquele lugar. Alice não era uma impostora; ela era uma cientista talentosa e merecedora.

A lição que Alice aprendeu naquele dia foi valiosa. Ela percebeu que a síndrome de impostora não deveria definir seu valor. Ela tinha superado seus próprios medos e dúvidas, e aquele prêmio era uma prova concreta de suas realizações. A experiência a impulsionou a abraçar seu papel como uma mulher notável na ciência, inspirando outras mulheres a acreditarem em si mesmas e a desafiarem a síndrome de impostora que muitas vezes tenta silenciar suas conquistas.

Essa história de Alice nos leva a refletir sobre a autoconfiança das mulheres que pode ser comparada à resistência de uma planta frente à invasão de uma praga insidiosa: a cochonilha da dúvida. Assim como essa pequena praga pode se infiltrar silenciosamente e minar a vitalidade de uma planta, a dúvida pode corroer a autoconfiança da mulher, minando o crescimento e florescimento pessoal.

A cochonilha da dúvida muitas vezes se disfarça sob a folhagem da conquista. Mesmo quando as mulheres alcançam feitos notáveis, essa praga persiste, sussurrando que tais conquistas foram por acaso, que não são verdadeiramente merecedoras de seus sucessos. Essa incerteza intrínseca atua como um parasita, sugando a energia e a alegria que deveriam acompanhar as realizações.

Às vezes, a cochonilha da dúvida se alimenta das raízes mais profundas da autoimagem da mulher. Normas sociais e expectativas culturais muitas vezes plantam as sementes dessa praga, fazendo com que as mulheres questionem constantemente seu valor e habilidades. O ciclo de autorreflexão negativa pode ser tão prejudicial quanto a ação destrutiva da cochonilha em uma planta saudável.

A analogia nos lembra da importância de identificar e combater ativamente a cochonilha da dúvida. Assim como um jardineiro protege suas plantas, as mulheres precisam cultivar um ambiente mental saudável e nutritivo. Isso inclui a conscientização sobre as mensagens prejudiciais que recebem e a promoção de uma mentalidade que celebra as realizações, em vez de diminuí-las.

No livro “Tudo sobre o amor: novas perspectivas”, Bell Hooks pontua que o compromisso em dizer a verdade é a base do amor-próprio, uma vez que é a verdade que nos possibilita nos enxergar como realmente somos e abre o caminho para a autoaceitação. A história de Alice sobre a síndrome da impostora, nos convida a refletir sobre duvidar-se de si e a origem de uma autoestima frágil que muitas mulheres enfrentam na sociedade.

“A socialização machista ensina às mulheres que a autoafirmação é uma ameaça à feminilidade. Aceitar essa lógica equivocada prepara o terreno para a baixa autoestima” (Hooks, 2021 p. 98-99). Essa ideia estabelece uma dicotomia entre um “eu” artificial, moldado para agradar aos outros, e um “eu” mais autêntico, mantido nas sombras. Nessa dinâmica, o “eu autêntico” das mulheres muitas vezes fica oculto, enquanto o “eu falso” é apresentado ao mundo na esperança de obter validação e aceitação.

Hooks (2021 p.100) diz “[…] as mulheres podem sentir necessidade de fingir que amam a si mesmas, para projetar confiança e poder para o mundo exterior e, como consequência, sentirem-se num conflito psicológico, desconectadas de seu ‘eu’ verdadeiro. Envergonhadas pelo sentimento de que nunca poderão deixar ninguém saber quem realmente são, elas podem escolher o isolamento e a solidão por medo de serem desmascaradas.”

Seguindo essa linha de pensamento, as mulheres podem internalizar a crença de que aquilo que as pessoas afirmam gostar é, na verdade, seu “eu falso”. Como podem sentir-se verdadeiramente valorizadas e dignas de amor e reconhecimento se a versão de si mesmas que todos conhecem e apreciam não é genuína? Na história de Alice, ela construiu a impressão de que a cientista notável e autora de todas as pesquisas era uma representação falsa de si mesma, resultando na sensação de que seu “eu” verdadeiro não merecia receber o prêmio em questão.

Uma mulher que enfrentou a necessidade de buscar seu “eu” mais autêntico foi a pensadora Simone de Beauvoir. Em seu livro “O Complexo de Cinderela”, a autora Collete Dowling relata um episódio marcante da vida de Simone descrito em “Prime of Life“. Nesse relato, Simone aceita uma posição de professora em Marselha por um ano, distante de Sartre, seu companheiro. Ao perceber o quão perigosamente fácil era existir subjugada por alguém mais fascinante, a quem podia idealizar e na sombra de quem se sentia pequena e segura, Simone reconheceu sua íntima dependência de outros. Ao aceitar o trabalho em uma cidade distante e estar sozinha, ela viu-se obrigada a traçar seu próprio caminho, sem ajuda externa. Nesse período de sua vida, Simone experimentou situações que lhe permitiram resgatar sua autenticidade, ou, nas palavras de Colette, “recuperar sua alma”. Refletindo sobre o ano que passou, Simone afirmou: “Eu sabia que agora podia contar comigo mesma” (Dowling, 1995, p. 202).

Diante destas reflexões, percebemos a importância de estar imersa em um ambiente que celebre a nossa verdadeira essência, reconhecendo e reforçando positivamente os atos de autoafirmação e a singularidade espontânea que reside em cada uma de nós. Ambientes e relações marcados por influências negativas atuam como a cochonilha que ameaça nossa planta chamada autoconfiança, drenando seus nutrientes e impedindo seu fortalecimento e crescimento.

Nesse contexto, o processo de individuação de Jung emerge como uma etapa crucial na jornada de superação da síndrome de impostora. Conforme mencionado anteriormente, encontramo-nos divididas entre um “eu” artificial, moldado por normas e expectativas sociais, que nos torna dependentes das regras e objetivos ditados por outros.

Esta pensata é um convite para que você, cara leitora, reflita sobre as pessoas que desempenham o papel de lavanda em seu jardim interior. Assim como a lavanda, com seu perfume suave e agradável, repele pragas para manter o jardim saudável, as pessoas que acreditam em nosso potencial e estimulam o nosso melhor agem como preciosos presentes na vida. São aquelas que enxergam nossas qualidades mesmo quando duvidamos delas, constituindo um apoio valioso. Essas “lavandas humanas” são indispensáveis, embora seja igualmente crucial que nossa planta de autoconfiança desenvolva anticorpos para se defender das cochonilhas da dúvida.

Referências utilizadas pelas autoras:

Dowling, C. (1995). Complexo de Cinderela. São Paulo: Melhoramentos. (Original publicado em 1981).

Hooks, Bell. Tudo Sobre o Amor: Novas Perspectivas. São Paulo: Editora Elefante, 2021.

Como citar essa pensata: Barbosa, Aline dos Santos; Bacchiocchi, Luísa. O Perfume de Lavandas e a Cochonilha da Dúvida: Uma Jornada Contra a Síndrome de Impostora. Schola Akadémia, v.2, n.11, p. 1-3. Disponível em: www.scholaakademia.com, 2023.

Sobre as autoras

Aline Barbosa

Filósofa, Doutora e Mestra em Administração de Empresas. Bacharel em Comunicação Social. Atualmente cursando Licenciatura em História. É Professora Permanente no Programa de Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial (MADE) da Universidade Estácio de Sá. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Amor, Desigualdade de Gênero nas Organizações e Sociedade, Violência contra as Mulheres, Carreiras não Tradicionais, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.

Luísa Bacchiocchi

Mestranda em Gestão e Políticas Públicas pela Fundação Getulio Vargas. Graduada em Administração de Empresas e Pós-Graduada em Liderança e Inovação. Atualmente trabalha com novas abordagens e metodologias ativas em educação corporativa na FGV. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Comportamento Humano e Combate ao Sexismo.

A Gestão do Tempo para uma Vida com Propósito

“Você é jovem e a vida é longa. E hoje há tempo para matar. E então um dia você descobre que dez anos ficaram para trás. Ninguém lhe disse quando correr, você perdeu o tiro de partida. Com menos fôlego e um dia mais perto da morte. Cada ano está ficando mais curto, parece que nunca encontro tempo.”
Música: Time
Composição: David Gilmour / Nick Mason /
Richard Wright / Roger Waters
Tradução nossa

Beatriz, uma mulher contemplativa e sensível, viu-se imersa em uma jornada de autodescoberta após enfrentar duas experiências profundamente marcantes no último ano. A primeira delas, a perda de Merlin, seu companheiro felino de duas décadas, trouxe consigo não apenas a tristeza da despedida, mas também uma reflexão intensa sobre o tempo e a própria existência.

Ao investigar a dor da perda, Beatriz percebeu que Merlin, adotado quando ela tinha apenas dez anos, era mais do que um simples animal de estimação. Ele foi testemunha silenciosa do seu crescimento, uma presença constante em todas as fases da sua vida até seus trinta anos. A morte de Merlin tornou-se um catalisador para questionamentos profundos sobre como ela havia preenchido essas duas décadas. O felino, em sua simplicidade, realizou suas funções naturais – comer, dormir, brincar, demonstrar carinho – enquanto Beatriz se questionava se havia cumprido seu propósito de maneira tão clara.

A segunda reviravolta na vida de Beatriz veio na forma de um diagnóstico oftalmológico. O cansaço visual e a visão turva foram sintomas de um pequeno grau de astigmatismo em ambos os olhos. A perspectiva de usar óculos, algo distante da sua experiência anterior com uma visão nítida, a abalou profundamente. O choro que se seguiu não era simplesmente pela necessidade de correção visual, mas sim pela representação simbólica do envelhecimento e da vulnerabilidade do corpo ao tempo.

A melancolia que a envolveu ao enfrentar a realidade dos óculos foi um confronto direto com a inevitabilidade do envelhecimento e a fragilidade da condição humana. Aos trinta e um anos, Beatriz sentiu-se compelida a encarar a passagem do tempo não apenas como uma constante, mas como um agente transformador de sua própria jornada.

Essas duas situações convergiram para moldar a perspectiva filosófica de Beatriz sobre a vida e principalmente sobre a passagem do tempo. Ela se tornou uma buscadora de significado em meio ao fluir do tempo, consciente de que cada dia é uma oportunidade única. A perda do seu gato Merlin e a necessidade de usar óculos não eram apenas eventos isolados, mas elementos interligados em sua narrativa existencial.

A reflexão profunda de Beatriz sobre suas escolhas e o uso do tempo a conduziu por um caminho de autoconhecimento e responsabilidade. Aos quase 31 anos, ela se viu confrontando questões existenciais que ecoavam em sua mente e ecoavam na câmara silenciosa de suas decisões passadas.

A inquietação provocada pelas perguntas sobre o que realizou em sua vida e se aproveitou plenamente da experiência de viver, despertou em Beatriz uma urgência para avaliar seu legado pessoal. O questionamento sobre a satisfação que sentiria se morresse amanhã se tornou um catalisador para uma profunda revisão de suas escolhas e ações.

Sua “bagagem” era agora reconhecida como uma coleção de escolhas que, em vez de nutrir sua essência, alimentaram inquietações internas. A ansiedade de não ter tempo para realizar tudo o que desejava na vida tornou-se uma sombra constante, obscurecendo a vivacidade que a vida poderia oferecer.

A pergunta crucial que ecoava em sua mente estava relacionada ao que era verdadeiramente importante para ela. Beatriz percebeu que essa clareza de valores era a bússola que faltava em suas decisões passadas. A busca por significado tornou-se uma jornada para desvendar suas prioridades genuínas, abandonando as expectativas externas que não refletiam sua essência.

Ao compreender que se sentia “morta por dentro”, Beatriz percebeu que o tempo não era apenas uma medida cronológica, mas sim uma oportunidade de viver com autenticidade e plenitude. Sua jornada de autoconhecimento a conduziu à compreensão de que, para preencher o tempo com significado, ela precisava começar por conhecer a si mesma, como nos inspira Sócrates.

Assim como Beatriz, nessa buscar por significado diante da passagem implacável do tempo, nós podemos encontrar conforto e orientação nos sábios ensinamentos de Sêneca, um importante filósofo Estoico. Sêneca afirmava que a vida não é curta, mas sim que nós a desperdiçamos. Logo, não é a falta de tempo que nos faz sentir que a vida é curta, mas sim o desperdício do tempo que temos. Ele destaca que muitas pessoas vivem como se fossem viver para sempre, adiando decisões importantes e ações significativas.

Sêneca argumenta que a verdadeira longevidade está na qualidade da vida que vivemos e não na quantidade de anos vividos. Por isso, uma mente sábia e uma vida bem vivida transcendem as limitações temporais do corpo. Sendo o tempo nosso recurso mais valioso e precioso, Sêneca aconselha que apreciemos e utilizemos o tempo com sabedoria, pois é um recurso finito que nunca poderá ser recuperado por nós.

A urgência que Beatriz sentiu não era apenas uma consequência da passagem do tempo marcada por sua idade, mas uma chamada para viver conscientemente a cada momento. Ao aceitar a responsabilidade por suas escolhas passadas, ela percebeu que a verdadeira riqueza do tempo está na qualidade das experiências vividas, não na quantidade de anos acumulados.

Com a sabedoria de Sêneca podemos transformar diariamente a angústia do tempo perdido em uma oportunidade para viver com mais sabedoria no presente. Podemos abraçar a ideia de que o tempo é um recurso finito, e cada escolha consciente é um investimento no enriquecimento da vida.

A filosofia de Sêneca pode nos guiar para além das sombras da ansiedade e do medo da morte ao reconhecermos que, ao focar no presente e fazer escolhas alinhadas com nossos valores, exerceremos nossa humanidade ao máximo. Nossa jornada tornar-se-á uma celebração da vida autêntica, em que cada dia será uma oportunidade para aprender, crescer e contribuir para um legado que genuinamente nos orgulhe.

Ao invés de lamentar o que poderia ter sido, devemos viver com gratidão e perceber que a passagem do tempo, longe de ser uma ameaça, é uma dádiva que nos impulsiona a abraçar a existência com plenitude.

Com a história de Beatriz e a sabedora de Sêneca, convidamos você, cara leitora e caro leitor, a refletir sobre o que é importante para você. Sobre quais escolhas diárias você tem feito em sua rotina e como você tem investido o seu precioso tempo. Se sua resposta não te deixar em paz, assim como aconteceu com Beatriz, reflita sobre quais decisões você precisa tomar para que você possa priorizar o que é importante e que está alinhado aos seus valores.

Encerramos esta reflexão reformulando a conhecida frase associada a Benjamin Franklin, substituindo “Tempo é Dinheiro” por “Tempo é Vida”. Devemos empregar nosso tempo de maneira eficaz, utilizando-o a nosso favor e considerando a morte como uma conselheira, à semelhança de Marco Aurélio. Este conhecido Imperador Romano e filósofo nos recorda da efemeridade da existência humana, ressaltando a brevidade da vida. Ao confrontarmos a inevitabilidade da morte, sentimos o estímulo para viver de maneira virtuosa, apreciando cada momento com sabedoria.

Como citar essa pensata: Bacchiocchi, Luísa; Barbosa, Aline dos Santos. A Gestão do Tempo para uma Vida com Propósito. Schola Akadémia, v.2, n.10, p. 1-3. Disponível em: www.scholaakademia.com, 2023.

Sobre as autoras

Luísa Bacchiocchi

Mestranda em Gestão e Políticas Públicas pela Fundação Getulio Vargas. Graduada em Administração de Empresas e Pós-Graduada em Liderança e Inovação. Atualmente trabalha com novas abordagens e metodologias ativas em educação corporativa na FGV. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Comportamento Humano e Combate ao Sexismo.

Aline Barbosa

Filósofa, Doutora e Mestra em Administração de Empresas. Bacharel em Comunicação Social. Atualmente cursando Licenciatura em História. É Professora Permanente no Programa de Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial (MADE) da Universidade Estácio de Sá. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Amor, Desigualdade de Gênero nas Organizações e Sociedade, Violência contra as Mulheres, Carreiras não Tradicionais, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.

Ser Mulher nas Ruas: Um Olhar Filosófico e Etnográfico no Centro de Curitiba

Você já parou para refletir se as ruas do centro da sua cidade influenciam na sua forma de agir?

O centro das cidades é um microcosmo urbano onde, especialmente, as experiências das mulheres são profundas e silenciosas. Em 2022, um exercício etnográfico lançou luz sobre as dinâmicas vividas por mulheres que circulam por quatro pontos da região central de Curitiba: o Terminal do Guadalupe, a esquina entre a Rua Pedro Ivo e a Travessa da Lapa, o trecho pedonal da Rua XV de Novembro, entre a Rua Marechal Floriano Peixoto e a Rua Monsenhor Celso, e a Praça General Osório.

Neste trabalho, os registros foram feitos por meio de fotografias, anotações, observações e entrevistas com transeuntes e trabalhadores locais. Uma destas entrevistas foi com Deise, uma jovem de 19 anos que trabalha na região central. Ela compartilhou seu receio de assaltos, embora não tenha sido vítima de nenhum. Ela observa que a sensação de insegurança é exacerbada pela falta de estrutura de segurança, especialmente a iluminação insuficiente no entorno do Terminal do Guadalupe, o que facilita abordagens indesejadas.

Em outra entrevista, com Adenilson, um homem de 40 anos que trabalha como segurança terceirizado no terminal, ele conta que já testemunhou inúmeros furtos na área, afetando tanto homens quanto mulheres, além de ladrões em bicicletas que arrancam colares das vítimas. As mulheres, frequentemente, se aproximam de Adenilson para pedir informações ou ficarem próximas a ele para poderem mexer no celular, buscando um pouco mais de segurança em sua presença.

A entrevista com uma moradora da região há seis décadas, Sueli, de 80 anos, trouxe uma perspectiva bem particular. Ela afirma que nunca sofreu violência ou assalto na região, pois, como ela diz, trata “de igual por igual” os homens que a abordam e mantém contato visual. Sueli também compartilhou uma opinião polêmica, sugerindo que algumas mulheres que vestem roupas consideradas “ousadas” nas ruas “pedem” por assédio, atribuindo a responsabilidade à vítima em vez do agressor.

A pesquisa proporcionou muitos relatos interessantes. Além destes, as observações realizadas revelaram que as mulheres tendem a caminhar mais rápido e encolhidas quando estão sozinhas, evitando fones de ouvido para manter a atenção. Homens, por sua vez, demonstram posturas mais eretas. As mulheres costumam carregar bolsas e sacolas próximas ao corpo, provavelmente por segurança. Quando acompanhadas por outras mulheres ou crianças, a tensão diminui, e a presença masculina, como marido ou namorado, traz uma sensação de relaxamento notável.

Os muros altos, concertinas, vias rápidas, calçadas estreitas também influenciam nas reações corporais. Em termos de simbolismos, observou-se que o Terminal do Guadalupe, nomeado em homenagem a Nossa Senhora de Guadalupe, uma figura feminina, destoa da predominância de nomes masculinos nas ruas adjacentes, como João Negrão, Pedro Ivo e André de Barros.

Nas regiões da Praça General Osório e do trecho pedonal da Rua XV de Novembro, as mulheres desfrutam de uma maior sensação de segurança e um pouco mais de liberdade. Elas caminham mais devagar, com bolsas soltas e permitem que as crianças brinquem com maior desenvoltura. A contemplação de lojas e vitrines ocorre de maneira espontânea e tranquila, o tempo de travessia nos semáforos também é maior e confortável. A presença de moradores de rua e usuários de drogas é menos impactante devido à movimentação constante de pessoas, comércio e serviços.

É importante destacar que esse recorte espaço-temporal foi específico, realizado no período da manhã em horário comercial de um dia de semana. Os resultados podem ser diferentes se coletados em outros momentos. De todo modo, esse exercício etnográfico provocou um olhar atento, o que é raro em ruas tão movimentadas, nas quais passamos distraídos ou apressados. E revelou algumas facetas como segurança pessoal, estereótipos, comportamentos que, embora assuntos substanciais, tornaram-se “normais” e percebidos com certa naturalidade pelas mulheres que aprendem desde cedo a ter resiliência.

Ser mulher nas ruas do centro de Curitiba e em demais municípios é uma experiência que mescla sutileza, dificuldade, muito questionamento e poucas respostas efetivas. Pois, além do comportamento visível e características físicas dos ambientes, as ruas transparecem o emaranhado das relações socioculturais, que moldam os hábitos e, por isso, abre espaço de discussão sobre qual é a influência do desenho das cidades para essa temática, e o que seria um planejamento urbano seguro e inclusivo.

Não é de hoje tais questões no mundo. A jornalista estadunidense Jane Jacobs consolidou uma interpretação pioneira e revolucionária para os fenômenos urbanos, confrontando o sistema autoritário e desumanizado das cidades. Desmoralizada no início, sua voz foi reverberando até se tornar ensurdecedora aos seus opositores, encorajando a população a se apropriar de suas próprias cidades e mudando radicalmente a forma de ver e pensar a urbe.

Para ela, manter a segurança urbana para todos era a tarefa principal das ruas e das calçadas. Instituiu o conceito de “olhos da rua”, em que defendia a multiplicidade de atividades e diversidade como ferramentas de seguridade, ao contrário das soluções de arquitetura hostis com essa mesma finalidade. Esses elementos puderam ser identificados nos registros da pesquisa, assim como a falta de compromisso com o tema, mesmo após mais de 60 anos do lançamento de seu livro “Morte e Vida de Grandes Cidades”.

Ainda, para ajudar nesta jornada reflexiva, é possível citar algumas filósofas que contribuíram para o entendimento das perspectivas da experiência de ser mulher em grandes centros urbanos. Alguns anos antes da obra de Jacobs, Simone de Beauvoir argumentou que a construção da identidade da mulher é influenciada pela sociedade patriarcal e pelas normas de gênero. Por isso, pode-se dizer que o espaço urbano manifesta o enfrentamento das mulheres às expectativas e regras sociais. Nesse sentido, para Judith Butler, a performatividade, que advém da identidade de gênero, é uma construção social que ocorre por meio de atos repetidos. Ou seja, dia após dia as mulheres nas ruas colocam em xeque as noções tradicionais de feminilidade.

Já Iris Marion Young discutiu o conceito de “espaço público” e como as mulheres muitas vezes são marginalizadas ou enfrentam hostilidade em áreas urbanas, mas mesmo assim continuam buscando acesso equitativo como uma parte importante de suas vidas. Sob esse prisma, podemos citar a filósofa Martha Nussbaum que defendeu a importância de garantir que todas as mulheres tenham a capacidade de levar vidas plenas e significativas e, para isso, é necessário acesso às oportunidades e aos serviços públicos.

Bell Hooks explorou a interseccionalidade das experiências das mulheres, destacando como raça, classe social e gênero se entrelaçam na vivência em centros urbanos, e ressaltou a importância da solidariedade entre mulheres na busca de seus direitos. Por fim, Gayatri Chakravorty Spivak explorou questões de subalternidade e voz, enfatizando como as mulheres nas cidades muitas vezes enfrentam opressão sistemática e é vital amplificar suas vozes.

A partir destas diferentes perspectivas sobre como é ser mulher em grandes centros urbanos, é possível compreender que esses aspectos são um reflexo das complexas dinâmicas sociais, econômicas e culturais. Embora os espaços públicos ofereçam uma ampla gama de oportunidades e acesso a serviços, eles também apresentam desafios significativos para as mulheres. Por isso, tentam nos convencer que o mais seguro é velar o que se é, mas, ao contrário disso, o tema está latente e são muitas as representantes dessa causa em prol da nossa expressividade.

Com esta pensata, nosso intuito é convidar vocês, caras leitoras e caros leitores, a refletir sobre como é ser mulher em centros urbanos e o que podemos fazer para contribuir com melhorias nessa realidade, além de buscar inspiração para a luta contínua pela manifestação feminina nas cidades. E para você, cara leitora, como é ser mulher em sua cidade?

Como citar essa pensata: Barbosa, Luíza Chiarelli de Almeida; Barbosa, Aline dos Santos. Ser Mulher nas Ruas: Um Olhar Filosófico e Etnográfico no Centro de Curitiba. Schola Akadémia, v.2, n.9, p. 1-3. Disponível em: www.scholaakademia.com, 2023.

Nota: Os dados de campo mencionados nesta pensata foram coletados pelas alunas  do Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental da Universidade Positivo (PPGAmb) Luíza Chiarelli de Almeida Barbosa e Ingrid Buccieri, e pela aluna da Graduação da mesma instituição, Raílle Almeida, para a disciplina de Análise Qualitativa, módulo Etnografia conduzido pelo Prof.  Dr. Rivail Vanin de Andrade.

Sobre as autoras

Luíza Chiarelli de Almeida Barbosa

Arquiteta e Urbanista, Mestre em Gestão Urbana e Especialista em Gestão Escolar e em Formação docente para EAD. Doutoranda em Gestão Ambiental. Coautora do livro Vales Imaginários: Anhangabaú. É professora nos cursos de Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário Internacional. Tem interesse de pesquisa nas temáticas relacionadas a Filosofia, Artemídia, Interações Socioespaciais, Comunicação, Cultura e Educação.

Aline Barbosa

Filósofa, Doutora e Mestra em Administração de Empresas. Bacharel em Comunicação Social. Atualmente cursando Licenciatura em História. É Professora Permanente no Programa de Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial (MADE) da Universidade Estácio de Sá. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Amor, Desigualdade de Gênero nas Organizações e Sociedade, Violência contra as Mulheres, Carreiras não Tradicionais, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.

A Relação entre Culpa e Dor: Uma Jornada em Busca do Perdão.

Você já se perguntou por que ficamos doentes? E quando isso acontece, podemos nos curar? Estudada amplamente, a conexão corpo e mente nunca foi unânime e, ao mesmo tempo, tão atual. Coexistindo com uma profundidade impressionante, essas respostas em todos os tempos passados e atuais, permanecerão indecifráveis. E se tornam vivas para nós quando nos perguntamos: Será que, sem nenhum aviso prévio, estou doente? E foi assim que aconteceu com a protagonista da nossa história.

Laura caminhava pelas movimentadas ruas da cidade em um dia ensolarado. O sol emitia raios suaves que pareciam acariciar sua pele. A luz dourada refletia nas pedras da calçada, criando um cenário sereno. No entanto, por mais idílico que o dia pudesse parecer, ela carregava o peso de sua agitada rotina de trabalho e compromissos.

Naquele dia, Laura havia reservado um tempo para uma consulta de rotina, um breve momento de pausa em sua agenda, que muitas vezes parecia tão cheia que a fazia se sentir como um deus controlando o tempo. Ela embarcou no ônibus, que estava repleto de passageiros, mas conseguiu chegar ao consultório médico pontualmente.

Após ser chamada, Laura foi atendida pelo médico, que após uma série de perguntas e análises, comunicou a notícia que a pegou de surpresa: “Parece que há uma alteração no seu exame. Vou encaminhá-la para outra consulta, faça o quanto antes.” Laura tentou se tranquilizar. Não poderia ser algo sério, apenas uma pequena complicação que um antibiótico resolveria, pensou. Entretanto, as consultas e exames subsequentes alimentaram sua preocupação.

Em uma das consultas, o médico disse: “Aguarde até 30 dias para sabermos se precisará de cirurgia, mas pelas características condiz com essa necessidade.” Aquela notícia pairou sobre Laura como uma nuvem escura, fazendo com que cada segundo parecesse uma eternidade. Ela passava horas a fio tentando compreender o que havia acontecido, questionando-se sobre o que poderia ter feito de errado. Nesse período de incerteza, Laura começou a refletir sobre a separação entre o corpo e os valores que o pensamento ocidental muitas vezes impõe. Ela percebeu como a medicina, embora assertiva em alguns aspectos, podia ser vaga e desvinculada do bem-estar emocional.

Após a cirurgia, Laura recebeu a recomendação de repouso total, aguardando as dores que normalmente acompanham o pós-operatório. No entanto, os dias passaram e nenhuma dor se manifestou. Surpreendentemente, Laura não sentia nenhum desconforto. Foi nesse momento que algo extraordinário aconteceu. Laura sentiu como se um abraço caloroso a envolvesse, acompanhado por um sussurro suave: “Onde não há culpa, não há dor.” As lágrimas escorreram de seus olhos, não mais de medo, mas de compreensão e perdão.

Laura aprendeu que a cura não se limita apenas ao corpo, mas está intrinsecamente ligada à mente e ao espírito. Ela entendeu que, para se recuperar plenamente, era necessário perdoar a si mesma, abandonando qualquer julgamento que pudesse ter carregado no passado. Agora, ela seguia adiante, não mais como uma máquina controlada por horários e compromissos, mas como uma alma em busca de aprendizado, aceitação e, acima de tudo, do amor próprio.

A experiência de Laura é um convite para tentarmos compreender a complexa relação entre culpa e dor na experiência humana. Refletindo sobre a essência da culpa, compreendemos que se trata de uma emoção que emerge quando assumimos responsabilidade por ações que julgamos como equivocadas ou prejudiciais. Ela está profundamente enraizada em nossa moralidade e no julgamento que fazemos de nossas ações. Muitas vezes, a culpa é uma força motivadora para a mudança e a reparação, levando-nos a tomar medidas para corrigir nossos erros.

No entanto, a culpa também pode ser uma carga pesada. Ela pode se transformar em autocondenação, autocrítica e sofrimento interno. Quando permitimos que a culpa persista sem um propósito construtivo, ela se torna um fardo que pode resultar em dor emocional e psicológica.

A relação entre culpa e dor é complexa. A ideia de que “onde não há culpa, não há dor” sugere que a liberação da culpa pode levar à liberação da dor. Isso nos leva a considerar o perdão, não apenas aos outros, mas a nós mesmos. O ato de perdoar pode ser libertador, permitindo-nos seguir em frente sem o peso da culpa.

Uma filósofa que explorou profundamente o conceito de perdão, tanto em relação aos outros quanto a nós mesmos, foi Hannah Arendt. O perdão, segundo Arendt, é uma resposta à imprevisibilidade das ações humanas e à capacidade de cometer erros. Para Arendt, o perdão a si mesmo é uma expressão da capacidade humana de se redescobrir, de se reinventar e de se libertar do peso de ações passadas. No entanto, Arendt não vê o perdão como um ato simples de esquecimento, mas como um processo complexo que envolve reflexão, responsabilidade e ação futura. Perdoar a si mesmo é reconhecer a própria humanidade e a capacidade de crescimento, mesmo após cometer erros.

Entretanto, será que a ausência de culpa, realmente elimina todas as formas de dor? A vida está repleta de situações complexas, nas quais a culpa nem sempre é o fator predominante na experiência da dor. A experiência humana é multifacetada. As emoções, como a culpa e a dor, são influenciadas por uma miríade de fatores. A relação entre culpa e dor pode variar de pessoa para pessoa e de situação para situação.

É verdade que ainda não chegamos a um consenso tão eficaz em relação ao corpo e a mente e tudo o que os envolvem. Estamos em uma corda bamba pendendo de um lado para o outro, quase perdendo nossos dois elixires e, consequentemente, nossa identidade. Correndo o risco de esquecermos que somos humanos e das nossas preciosas faculdades que nos trouxeram até aqui. As necessidades básicas para sobreviver continuam ancestrais, exatamente as mesmas de séculos anteriores, como se alimentar e se aquecer. Brincar de ser deus não é tão simples. Os superpoderes podem se voltar contra quem os usou.

A intenção desta pensata, cara leitora e caro leitor, é lembrar que a percepção e as experiências da sua vida são ferramentas essenciais. E principalmente, perguntar: você já se ouviu hoje, de modo a revelar ação em prol de seu próprio caminho? A dor de existir, manifestada por vezes no cenário físico, pode ser interpretada como uma oportunidade de parar, observar e refletir sobre o nosso percurso. Portanto, pare e escute. Seu corpo tem muito a revelar sobre você e sua vida.

Como citar essa pensata: Barbosa, Luíza Chiarelli de Almeida; Barbosa, Aline dos Santos. A Relação entre Culpa e Dor: Uma Jornada em Busca do Perdão. Schola Akadémia, v.2, n.8, p. 1-3. Disponível em: www.scholaakademia.com, 2023.

Sobre as autoras

Luíza Chiarelli de Almeida Barbosa

Arquiteta e Urbanista, Mestre em Gestão Urbana e Especialista em Gestão Escolar e em Formação docente para EAD. Doutoranda em Gestão Ambiental. Coautora do livro Vales Imaginários: Anhangabaú. É professora nos cursos de Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário Internacional. Tem interesse de pesquisa nas temáticas relacionadas a Filosofia, Artemídia, Interações Socioespaciais, Comunicação, Cultura e Educação.

Aline Barbosa

Filósofa, Doutora e Mestra em Administração de Empresas. Bacharel em Comunicação Social. Atualmente cursando Licenciatura em História. É Professora Permanente no Programa de Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial (MADE) da Universidade Estácio de Sá. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Amor, Desigualdade de Gênero nas Organizações e Sociedade, Violência contra as Mulheres, Carreiras não Tradicionais, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.

Masculinidades hegemônicas como contrarresistência no contexto universitário

Sobre os autores

Aline Barbosa

Filósofa, Doutora e Mestre em Administração de Empresas. Bacharel em Comunicação Social. Atualmente cursando Licenciatura em História. É Professora Permanente no Programa de Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial (MADE) da Universidade Estácio de Sá. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Amor, Desigualdade de Gênero nas Organizações e Sociedade, Violência contra as Mulheres, Carreiras não Tradicionais, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.

Papo Filosófico – Rejeição

Lidar com a rejeição não é uma tarefa fácil! Alguns o enfrentam de forma dolorida, enquanto outros o encaram de maneira mais tranquila. A avaliação dessa situação é totalmente individual e depende do contexto em que ela ocorreu. Hoje, trouxemos uma reflexão filosófica sobre como lidar com esse tipo de situação.

O provérbio de Salomão diz que ‘o espírito abatido faz secar os ossos, mas o coração alegre é um bom remédio’. Isso me fez lembrar do filósofo Tales de Mileto, considerado pré-socrático e também um filósofo da natureza, pois buscava entender a causa originária da vida. Esse filósofo defendia que a origem da existência humana era a água, pois acreditava que tudo o que tinha água era vivo, enquanto o que não tinha água estava seco, morto.

Portanto, quando estamos com o espírito triste e abatido devido à rejeição, nos sentimos secos, sem vida.

Por fim, gostaria de convidar você a refletir mais sobre isso e a importância de sermos como a água, fluidos e maleáveis. Se você passou por esse tipo de situação ou está lidando com esse processo, convido-o a refletir sobre as palavras de Salomão e ensinamentos de Tales de Mileto. Que seu coração esteja vivo, alegre e molhado, e que as rejeições e tristezas não sejam capazes de secar essa fonte de água que existe dentro do seu coração.

Sobre a autora

Aline Barbosa

Filósofa, Doutora e Mestra em Administração de Empresas. Bacharel em Comunicação Social. Atualmente cursando Licenciatura em História. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Amor, Desigualdade de Gênero nas Organizações e Sociedade, Violência contra as Mulheres, Carreiras não Tradicionais, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.

Papo Filosófico – 5 Porquês

A ferramenta dos “5 Porquês” ou “Five Whys” é uma técnica desenvolvida na década de 1950 pela Toyota como parte da gestão da qualidade total nas organizações.

A abordagem dos “5 Porquês” envolve fazer uma série de perguntas, começando com a pergunta “Por que isso aconteceu?” e, em seguida, repetindo essa pergunta várias vezes, aprofundando-se cada vez mais nas respostas. A ideia é descobrir a raiz do problema, em vez de lidar apenas com seus sinais superficiais.

Mas, qual é a relação dessa ferramenta com a filosofia?

Sócrates, utilizava um método chamado “maiêutica”, que consistia em fazer perguntas para estimular o pensamento crítico e ajudar as pessoas a descobrirem a verdade por si mesmas. Sua famosa frase “Só sei que nada sei” não significava que ele não tinha conhecimento algum, mas sim que reconhecia a profundidade do desconhecido e usava a pergunta como uma ferramenta para chegar a um conhecimento mais profundo.

Recomendamos que aplique esse método na sua jornada pessoal e profissional. Dessa forma, você vai conseguir identificar a raiz do problema, aprimorar a compreensão e tomar decisões mais convictas. Portanto, ao se deparar com desafios, não hesite em se questionar e aprofundar sua busca pelo conhecimento.

Sobre a autora

Aline Barbosa

Filósofa, Doutora e Mestra em Administração de Empresas. Bacharel em Comunicação Social. Atualmente cursando Licenciatura em História. É Professora Permanente no Programa de Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial (MADE) da Universidade Estácio de Sá. Tem interesse de pesquisa nas temáticas sobre Filosofia, Ética, Amor, Desigualdade de Gênero nas Organizações e Sociedade, Violência contra as Mulheres, Carreiras não Tradicionais, Estratégia e de Sustentabilidade, e publica estudos nacionais e internacionais sobre estes tópicos.